Dos dias 10 a 19 de janeiro de 2007 aconteceu em Hidrilândia-GO o 1º encontro nacional de irmãos leigos capuchinhos, promovido pela Conferencia dos Capuchinhos do Brasil – CCB. Durante o mesmo contamos com a presença saudosa de frei José Rodrigues de Araújo, atual presidente da CCB. Todos os irmãos somavam um total de 37 participantes, vindos de quase todas as circunscrições do Brasil, com exceção da província do Rio de Janeiro e Espírito Santo. O encontro, por si só, não teve como finalidade principal, estudo e aprofundamento, mas a integração e a verificação da realidade dos irmãos em nível de Conferência.
Nos primeiros dois dias (11 e 12) trabalhamos a questão de ver como está a nossa realidade de irmãos leigos a nível pessoal (experiência) e a nível provincial (relação com a instituição). A equipe organizadora colocou o grupo para trabalhar, e desse trabalho brotaram muitas expressões e realidades que por si só refletem como um espelho a situação da Ordem no Brasil, no tocante à dimensão laical da vida capuchinha. A primeira parte, dia 11/01, nos debruçamos sobre as experiências pessoais, orientados sob as linhas motivadoras abaixo citadas:
1. partilha histórico-pessoal: familiar, vocacional e cultural (região);
2. o que mais entusiasma na minha caminhada vocacional?
3. o que mais me desafia e angustia?
4. o que mais me desanima (frustra)?
5. o que mais me apaixona em meio projeto de vida?
6. quais são as imagens de Deus, de Francisco e Clara, que acompanham minha historia de vida?
Esse trabalho durou toda a parte da manhã. Na parte da tarde do mesmo dia, antes de ser feita a partilha dos grupos de estudo, frei Jose Rodrigues expôs para os participantes, um pouco do projeto de caminhada da CCB para este biênio, que em linhas gerais será:
a) continuar o encontro dos irmãos – eleger a partir deste primeiro, uma coordenação nacional;
b) continuar o encontro de formadores de dois em dois anos – valorizando o projeto de formação franciscana de fr. Jose Carlos Pedroso;
c) levar em frente o projeto missionário da CCB – reforçando algumas expressões já existentes, tais com: Timor Leste – dois frades da Bahia; presença no Acre – São Paulo; Ajuda a Cuba – MAPAAP.
d) criação de uma fraternidade interprovincial na região amazônica (Roraima);
e) continuação do encontro de pastoralistas capuchinhos.
Em seguida, fez-se a apresentação dos grupos de estudo acerca das experiências pessoais. Quantas coisas bonitas nos foram apresentadas como partilha dos irmãos do Brasil inteiro. Irmãos leigos que já exercem os mais diversos serviços na Ordem, desde as funções mais humildes até os serviços de guardiães, formadores, definidores provinciais, professores, ecônomos provinciais, etc. Isso nos faz acreditar com mais certeza na diversidade de nosso carisma, com o qual nos identificamos. Para São Francisco, o valor da vida em fraternidade está acima de qualquer coisa, inclusive da discriminação e do preconceito. Na fraternidade todos somos irmãos e iguais, apenas expressamos nosso ministério de forma diferente.
Dia 12/01 como estava previsto, foram apresentados dois dados de encaminhamento: partilha a nível provincial e a tarde, a partilha dos seis irmãos escolhidos para dar o testemunho de sua experiência de vida - fr. Augusto (BASE), fr. Anderson (SP), fr. Honorato (RS), fr.Carlito (MAPAAP), fr. Teobaldo (BO), fr. Wolmir (BO).
Como elemento motivador a equipe organizadora apresentou algumas questões para serem trabalhadas a nível de partilha como província. As questões foram as seguintes, destacando avanços e retrocessos.
1. Ministérios fraternos (exercícios) – guardiania, definidor, formador, ecônomo, etc;
2. Formação para nossa vida consagrada (como se dar o processo formativo do irmão);
3. Pastoral/Missão – ambiente eclesial;
4. preparação e exercício profissional(como se dar, que avanços, retrocessos);
5. Outros ...
Á tarde pudemos ver a partilha dos grupos sobre as experiências provinciais, no que se refere à caminhada dos irmãos leigos. Em muitos casos animava-nos, em outros, abria nossa consciência de que a Ordem precisa trabalhar muito para resgatar a sua identidade fundante do ideal de fraternidade evangélica onde todos, com igual vocação, têm os mesmos direitos e deveres, conforme a sua capacidade.
Ainda na parte da tarde escutamos os testemunhos de alguns dos nossos irmãos que foram eleitos para falar de sua experiência de vida e do seu trabalho, foram eles - fr.Augusto (Prov. BASE), fr. Anderson (Prov. SP), fr. Carlito (Prov. MAPAAP), fr. Honorato (Prov. RS), fr. Teobaldo (VProv. BO) e fr. Wolmir (VProv. BO).
Dia 13, na parte da manhã ficou reservado para os repasse do Capitulo geral por parte de fr. Izaias (Prov. BC). Em sua partilha, elencou algumas impressões que teve, ao participar do mesmo:
1. Partilha, igualdade e comunhão;
2. Dificuldades de compreensão da identidade do irmão leigo –confusão quanto ao termo.
3.Solidariedade econômica e de pessoa;
4. A eleição de um irmão para Definidor geral.
Apresentou também alguns aspectos pertinentes do Relatório do Ministro geral:
1.Declínio e diminuição do número de frades;
2.Há negligência em relação à formação;
3.A colaboração de pessoa dar um frescor de perspectiva para a Ordem;
4.Um programa de formação e colaboração entre as províncias, etc (Relatório do Ministro geral – Capitulo geral 2006).
No segundo momento, a tarde, os grupos reuniram-se para estudar um texto referente à temática da Identidade do Irmão leigo no tocante as dimensões teológico-juridico do termo, de fr. Francisco Iglesias, ofmcap.
Dia 14/01 (domingo) não houve atividades, muitos frades aproveitaram para ir a Goiânia ou Brasília, outros preferiram ficar em casa e descansar para os trabalhos do dia seguinte.
Nos dias 15 e 16 tivemos encontros muito enriquecedores comfrater Henrique Cristiano José. Ele é membro da Congregação dos Fráteres de Nossa Senhora, Mãe da Misericórdia. É professor, historiador, pesquisador de história da Igreja. Conhecedor da Vida Consagrada atua como pregador. É formado em Teologia, em História Civil e Eclesiástica.
Dia 15/01 dias trabalhou os seguintes temas:
1. A Identidade da Vida Religiosa Laical - Ao começar trilhando os documentos do Concilio Vaticano II, discorrendo sobre a temática da Vocação e da Laicidade, expressado na Lúmen Gentium,1 a 9.
2. A Fraternidade como ideal evangélico da consagração do irmão – ressaltando a teologia do n. 60 do doc. VC: Irmão em Cristo profundamente unido a Ele – aceitos e amados intensamente; Irmãos entre si no amor recíproco - os irmãos religiosos são reconhecidos enquanto amarem-se uns aos outros;Irmãos de todos os homens – a universalidade da fraternidade – no testemunho da caridade; Irmãos para a fraternidade na Igreja – O irmão religioso lembra a todos que ser fraterno é marca referencial da pessoa de Cristo;
3. Ser irmão religioso na igreja hoje constitui um inestimável dom de Deus. Isso deve ser um marco referencial para o discernimento vocacional dos jovens. O religioso irmão deve suscitar o entusiasmo pela vida laical da fraternidade.
Dia 16/01 enfatizou dimensão da a experiência fundante da vida religiosa, desta reflexão, destacou os seguintes pontos:
1) Experiência fundante da VR: “Só Deus basta”.
2) Experiência Ministerial (Serviço Apostólico) – às vezes finalidade principal da entrada na vida religiosa.
3) Em busca de uma auto-compreensão da consagração religiosa (Estudo em grupo). Das discussões nos grupos brotaram muitas questões que a medida do tempo foram respondidas e explicadas por frater Henrique.
Dia 17/01 não houve trabalhos! Os participantes foram a passeio em Caldas Novas-GO, cidade turística. Este lugar se caracteriza pelas piscinas de “Águas quentes”. Todo o grupo ficou muito lisonjeado pela dedicação da equipe em procurar tão belo espaço para o lazer do encontro.
Dia 18/01 frei Jose Gomes (Prov. SP) abordou o tema franciscanouma ordem de irmãos menores, trilhando o seguinte esquema: a partir de uma leitura histórico-critica; causas da clericalizacao;recorrer às fontes.
Durante todo o dia 19/01 (conclusão do encontro) trabalhamos na elaboração das Proposições. A equipe organizadora propôs as seguintes linhas motivadoras para a elaboração das mesmas:
1.Nós acreditamos, estamos convictos que... (qual o traço fundamental de nossa identidade)?
2.Ministérios fraternos – o que nós queremos? – (Uma ação em nível provincial, local e pessoal).
3.Formação para a nossa vida – (o que está sendo feito ou o que podemos fazer)?.
4.Pastoral -,....
5.Profissão – qualificação profissional.
6.Sonhamos...
7.Outros....
Na parte da tarde, houve um plenário para avaliação do encontro, na qual foi usada a metodologia. Logo em seguida, tendo o irmão entrado em consenso, foi decidido que o próximo encontro será realizado a cada dois anos. Portanto, o próximo será na Província de São Paulo, na semana do carnaval de 2009 descartando os períodos de janeiro e julho, pois geralmente nessas épocas do ano as províncias têm retiros e férias, o que impossibilita a participação dos frades.
Foi escolhida uma equipe que organizará o próximo encontro, composta por: fr. Jose Gomes (SP), fr. Marinaldo Caetano - suplente (SP), fr. João Batista (PR, SC, PY), fr. Mauro - suplente (PR, SC, PY), fr. Eriberto (MG) e fr. André Luiz - suplente, além de uma dupla de apoio: fr. Hélio Aparecido (VP. BO) e fr. Juracy (Prov. BC). Por último, foram aprovadas as Proposições como resultado do 1º encontro de irmãos leigos capuchinhos. Em seguida a equipe cessante agradeceu a presença de todos os irmãos e encerramos o nosso encontro solenemente com a celebração da santa missa.
CONCLUSÕES: PROPOSIÇÕES
1. Nós, irmãos leigos, acreditamos que somos uma Ordem de irmãos menores continuadores de um projeto de fraternidade evangélica como expressão maior de nosso carisma, fundamentado no seguimento de Jesus Cristo e na experiência de Francisco e Clara.
2. Propomos que todos os irmãos, indistintamente, possam exercer os ministérios fraternos (guardiães, formadores, ecônomos, definidores, secretários, etc) de acordo com a disponibilidade e os dons de cada um atendendo as necessidades da Província e da Ordem.
3. A partir do Serviço de Animação Vocacional, propomos que a formação inicial e permanente para nossa vida seja integral (dimensões humanas, religiosas, psicológicas, franciscanas, etc), sem distinção, sendo também abordada a dimensão laical da Ordem. E ao mesmo tempo, favoreça uma autêntica escolha do projeto de vida fraterna e preserve a nossa identidade como irmãos menores capuchinhos.
4. Propomos que a nossa missão/pastoral deve priorizar o testemunho de nossa vida e a presença transformadora e libertadora entre os menos favorecidos e excluídos. Acreditamos que os irmãos leigos devem buscar o espaço próprio em pastorais sociais e específicas sem precisar assumir exclusivamente as pastorais paroquiais.
5. Propomos que a nossa fraternidade se abra e se insira no mundo do trabalho diante dos desafios de hoje para exercer uma profissão conforme a capacidade de cada um. Sendo esta remunerada ou não, é uma missão que tem a mesma importância na realização plena de nossa vocação.
6. Propomos que sejam realizados, por circunscrições ou por regiões, encontros anuais de irmãos leigos visando a integração e o fortalecimento da opção.
7. Sonhamos com uma fraternidade de irmãos menores, sem qualquer distinção, onde todos testemunhem a vida evangélica, movidos pelo mesmo espírito a viver o ideal de Francisco e Clara, inseridos na realidade, sendo fermento de transformação.
Hidrolândia-GO, 19 de janeiro de 2007
Fonte: http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=noticias¬icia=692