Partilha com o Frei Edson Matias da Província do Brasil Central
ENCONTRO DE IRMÃOS LEIGOS CAPUCHINHOS 2º DIA
Iniciamos a manhã com a oração das Laudes, e após o café teve início a reflexão com frei Edson Matias da província do Brasil Central, com o tema do encontro: O perfil e a mística do irmão leigo na Ordem Capuchinha.
Frei Edson iniciou a reflexão lembrando que nos encontramos em uma mudança de época, muito diferente de 30 anos atrás. Mesmo em um mundo urbano ainda alimentamos uma mentalidade rural como Igreja, e isto não corresponde mais à realidade atual. O próprio sentido da religião está em transformação, hoje já se fala com naturalidade em pluralidade das religiões. A autoridade se deslocou das instituições para o sujeito.
Segundo ele, pensar o perfil do irmão leigo é pensar a identidade, é pensar a história da Ordem Capuchinha. Com isso se vê muitas vezes a necessidade de dar novo sentido partindo da história, pois, esta nos ajuda a dar esperança para o futuro e justificar o presente.
Sabedores das constantes transformações pelas quais passa o mundo atual, temos consciência de que somos cristãos, religiosos e estamos enraizados neste mundo em transformação. Nosso perfil e nossa mística passam pelos desafios que a vida religiosa consagrada enfrenta nos dias atuais.
Já sabemos que somos uma Ordem mista, querer ser só laical ou só clériga seria um erro. Hoje se fala em autoridade evangélica, ao invés de autoridade religiosa e institucional. Percebemos a mudança de época também nas nossas relações, e parece que não sabemos aonde todas estas mudanças vão levar. Há quem já fale em mundialização ao invés de globalização. Diante disto nos questionamos: como reler as transformações atuais sem perder o essencial? Frei Edson nos lembrou que este desafio também permeou as primeiras comunidades cristãs no contato com as novas culturas, e elas souberam dialogar com a nova realidade de maneira proveitosa. Lembrou que os CPOs nos alertavam para a atualização de nosso carisma.
Houve alguns comentários. Então o frei destacou que, por vezes, confundimos evangelização com propaganda, como que comercializando a fé, mesmo sem bem vivenciá-la. Falta-nos oração-reflexão, com momentos de “parada”, de “escuta”. Comentou-se ainda a necessidade de maior companheirismo. O assessor diz que falta-nos cumplicidade, intimidade entre os irmãos, o que nos leva a ser sinal entre o povo.
Outro ponto que mencionou, foi o fato de os frades usarem barbas nas origens da reforma, isso como busca da identidade. Com isso nos questionou: o que nós precisaríamos fazer para marcar a nossa identidade hoje?
Houve comentários destacando a atual “modernidade líquida” na qual nos encontramos, e que para nós capuchinhos é importante a consciência de reforma – nós somos uma reforma – como um grupo que busca sempre retomar; e percebermos valores próprios nossos diante dessa crise de sentido presente também na vida religiosa. Outro comentário foi sobre o cuidado com o ativismo, e que nós irmãos leigos parece termos mais condições para irmos no coração da Ordem, ou seja, enquanto estamos mais livres dos condicionamentos das estruturas.
Tendo o Reino como o centro, precisamos entender que o mundo hoje não é mais cristão, nós ficamos no mundo eclesial e não percebemos bem isso. Para tanto, precisamos retomar a partir do Evangelho meditado e vivenciado. Neste contexto de mudança com o qual nos deparamos percebemos que a autoridade está em crise, pois as pessoas estão mais bem informadas e são mais criticas. Contudo, ainda constatamos que muitos não têm formação critica, haja vista ser muito forte hoje um pentecostalismo ingênuo. Além disso, há muitas periferias que carecem de uma mínima presença eclesial católica.
O capuchinho é chamado a viver a realidade do recolhimento e da ação simultaneamente. Parece que o irmão capuchinho tem uma preocupação maior com o carisma. Diante da atual crise pela qual também passa a vida religiosa o diálogo é um meio para superá-la, evitando esconder nossos egoísmos.
Segundo o frei, há um autor que diz: “se não somos os últimos religiosos, talvez sejamos as ultimas testemunhas deste tipo de vida religiosa”. Muitos jovens até admiram, mas não compreendem o caminho dos religiosos. Diante disso, para caminharmos precisamos partir da realidade, resgatando o humano na vida religiosa, como Francisco de Assis, lembrando que a vida religiosa originalmente é humanização, existindo antes do cristianismo, como fator antropológico. Antes de sermos instituição somos inspiração. Talvez se formem “profissionais do sagrado” em detrimento dessa experiência humana.
Comentários: Crise como momento de crescimento. Será que não desumanizamos as nossas relações.... e disseram ser um martírio continuo viver o carisma hoje nas relações eclesiais e sociais, devido aos desafios atuais. Há um bem em nós que supera os conflitos. Há irmãos que transformam as relações.
Na parte da tarde, frei Edson apresentou o modelo de Igreja piramidal em que os irmãos leigos além de serem uma ínfima minoria na Igreja, sempre são colocados em uma lugar à margem. Também apresentou o modelo de Igreja comunitário, o qual foi comentado como o modelo proposto por Jesus e Francisco, e o anterior é o do Império.
As transformações na vida religiosa só acontecem quando começamos a fazer a diferença. Nem sempre é fácil, porém não é impossível.
Frei José Gislon falou sobre a força atual do termo fraternidade nas nossas Constituições, pois antes do Concilio Vaticano II se tinha outra conotação, por exemplo, se tinha como base a autoridade do guardião e hoje se tem a autoridade com conotação fraterna.
O nosso perfil deve nascer do Evangelho, de onde brotará a fraternidade. O desafio do uso da autoridade é constante. Há a necessidade de um autoconhecimento. Acentuo-se a importância do Capitulo Local como momento privilegiado para este aprofundamento da vida fraterna.
Um dos desafios na vida fraterna está ligado à questão afetiva e a do dinheiro. Comentaram ainda que quando achamos que estamos sempre com a verdade nos tornamos um problema. O carisma está espalhado na fraternidade, o Espírito sopra em todos. “É mais fácil pregar no púlpito que descer às esteiras da realidade para dialogar”. O campo de atuação do irmão leigo é vasto, isto é bom e é só saber usar. As atividades são intensas, porém não podemos jamais esquecer da nossa parada para “ouvir”. “Ajudamos a montar a festa, mas muitas vezes não a vivenciamos”. “O mar nos convida a um mergulho, será que este mar não seria Jesus nos convidando a mergulhar nele”.
As situações que nos permeiam não devem ser desestímulo para nós, mas ao contrário, devem nos impulsionar a algo diferente.
Precisamos discutir o nosso perfil e mística dentro deste mudo que nos rodeia. Resgatar a nossa cumplicidade e fraternidade. Conspirarmos juntos, respirarmos juntos. Precisamos ser mais Ordem do que Província. Superando o regionalismo. Devemos entrar no processo de mundialização criando laços fraternos, que produzam fraternidade.
Houve ainda algumas partilhas: As Constituições e os Escritos franciscanos são uma grande riqueza para nós, e que muitas vezes deixamos de meditá-los. Também se valorizou esse Encontro como boa iniciativa, a necessidade de aprofundar nossa teologia franciscana, e viver a fraternidade para então transmiti-la.
Após o lanche da tarde, frei Vilson da Província do Paraná e Santa Catarina, que está em Roraima na Vice Província do Amazonas e Roraima, fez uma partilha de sua experiência missionária. Esta Fraternidade interprovincial se iniciou em 2007 e o frei explanou os desafios da Fraternidade em meio a sérios problemas sociais que afetaram inclusive a Igreja.
Frei Marcelo Toyansk OFMCap
1º Secretário
Frei Tiago Santos OFMCap
2º Secretário
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